Há uma semana, quando foi anunciada a enésima ajuda à Grécia, e que passava essencialmente pelo alongamento dos prazos de reembolso ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira e por um período de 10 anos de carência de juros, o Governo português finalmente tomou a iniciativa de renegociar qualquer coisa no memorando.
Fê-lo rapidamente, e fê-lo muito bem: avançou, ele próprio, com um pedido de igualdade de tratamento.
O País pôde então ver e ouvir o senhor ministro das Finanças na Assembleia da República, onde se referiu aos outros “países de programa” (Portugal e Irlanda) como razoáveis beneficiários das novas condições acordadas para a Grécia. E, da parte europeia, o País pôde também ver e ouvir na televisão o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, referindo-se aos seus bons amigos portugueses e irlandeses como beneficiários dos seus bons serviços no Eurogrupo. Pois bem, afinal, parece que foi tudo um grande mal-entendido! […]
Como aqui escrevi na semana passada, a situação na Grécia é uma farsa generalizada, e em Portugal para lá caminhamos. Por isso, é crucial que não se dêem sinais que mais não farão do que instigar a opinião pública contra a ‘troika’. Dada a nossa situação de semi-insolvência, em que (ainda) nos encontramos, precisamos da ‘troika’, mas desde que esta esteja genuinamente interessada na nossa salvação, e não no nosso naufrágio. Neste sentido, e dada a dívida colossal a que chegámos, a dívida tem mesmo de ser reescalonada, tem de ser atirada para as calendas.
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